sexta-feira, 4 de maio de 2007

início

Estava parada à entrada do quarto, agarrada ao seu urso. Lá dentro a luz de fim de tarde, coada pelos pesados cortinados, enchia de sombras cada espaço livre. Adivinhava o cheiro a rosas e lavanda que tanta impressão lhe fazia. Balançou o corpo sem sair do mesmo sítio para fazer a madeira ranger. Na poltrona moveu-se um vulto e ela conseguiu ver dois olhos brilhantes a espreitarem-na:
- Conseguiste vê-los? - perguntou a voz rouca e cansada
Fez que não com a cabeça e colou os olhos ao chão. Com um suspiro o vulto voltou a esconder-se na sombra da poltrona.
- Um dia vais ver. Eu sei que sim. Eu sei que sim.
Madalena apertou mais o urso contra si e foi a correr até às escadas. Conseguia ouvir as vozes dos irmãos que se aproximavam da porta da rua. Gostava de os ver chegar da escola, atirar as mochilas e os casacos para um canto, meterem-se uns com os outros. Faltavam seis meses (seis meses!) para ir para a escola, para partilhar com eles o regresso a casa. Então já não seria a bebé. Nem da mãe, nem do pai e, muito menos, dos irmãos.
Esperou até ouvir a voz da mãe saudá-los, ralhar-lhes, suspirar e desceu finalmente as escadas.

2 comentários:

Karla disse...

posso comentar? posso? posso?

(se não puder apagas :P)

repito: quero o resto :)

Dora disse...

Ah bom...cá está a Sónia além da mãe dos miudos...:)
Sei que vou amar ver-te urdir estes fios.